Legion, a Série Psicodélica da FX

Situada no universo de X-Men, sua trama vai na contramão das atuais séries de super-heróis

Edisson Schwartzhaupt
3 min readOct 24, 2019

A série da FX, intitulada Legion, chegou ao fim com sua dramática terceira temporada, que durou até o dia 12 de agosto de 2019. Sendo transmitida desde 2017, sua história explora o personagem David Haller (Ben Stevens), um poderoso telepata que não sabe sobre seus poderes e que vive preso numa clínica psiquiátrica. Não é necessário conhecer a história proveniente dos quadrinhos para assistir, inclusive é recomendado que não se saiba de nada. Tendo isto em vista, sua ideia vai completamente na contramão das atuais séries de super-heróis, massivas e rasas. Na verdade sua narrativa não se resume apenas ao tema heróico, e traz questões ainda mais relevantes e complexas.

A primeira vista é complicado de entender a proposta da série, com profundo embasamento psicológico nas situações exploradas. As “batalhas” apresentadas estão mais pra conflitos humanos, que se desenrolam em ambientes que refletem a capacidade imaginativa — um ambiente metafísico. Sendo assim, o que Legion tenta mostrar vai além de situações em ambientes físicos, onde apenas força e poderes são eficientes. E durante suas enigmáticas três temporadas, chega-se perto de entender onde a série quer chegar.

A crítica inicial proposta faz alusão à forma desumana que muitos pacientes são tratados em hospitais psiquiátricos, que perduram em contextos históricos diferentes. Inclusive o passado dos próprios personagens é uma questão fundamental, e que explica bem o desenvolvimentos de suas personalidades durante os episódios — e ilustra plots marcantes. Este é um dos pontos fortes, pois os personagens de Legion são intrigantes e criativamente bizarros. Seus atores fazem um bom trabalho ao levar profundeza e autenticidade ao papel. Também pode-se ver que a série adota uma forma psicodélica de abordar os conflitos, se aprimorando de elementos surrealistas nas suas belas imagens e no seus jogos de câmera, ilustrando uma super produção em sua atmosfera insana.

Embora tenha muita qualidade, Legion explora bastante cenários repetidos e recorrentes. Logo de cara temos o hospital psiquiátrico como exemplo disso, nos deixando isolados com David, enquanto conhecemos outros personagens como sua amiga Lenny (Aubrey Plaza) e a mulher por quem se apaixona, chamada Syd Barrett (Rachel Keller). Isto é outro ponto interessante, as referências à cultura psicodélica que a série carrega. Tanto em sua trilha marcada por Pink Floyd, Rolling Stones e Tame Impala, mas também pelos elementos que compõe os cenários e personagens, alguns inspirados em Alice No País Das Maravilhas, por exemplo. A cada episódio vamos nos adaptando à essa viagem constante que o seriado traz em sua essência.

Por fim, Legion não é uma série que possa ser resumida ou facilmente introduzida, e para a sua compreensão talvez seja necessário assistir algumas vezes. Apesar do contexto completamente ficcional, o drama relatado pode ser entendido como o próprio desafio da existência presente em nós humanos. Isto deixa a entender o nível de complexidade e abrangência da série, que através das surpresas de sua última temporada, nos leva à uma conclusão transcendental. Seus episódios foram transmitidos pelo canal FX, e suas três temporadas podem ser encontradas nos serviços de streaming Netflix e Amazon Prime.

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